NEGATIVIDADE E INDEFINIBILIDADE DA REALIDADE HUMANA: CONTRIBUIÇÕES DO PENSAMENTO DE ERÍGENA E MESTRE ECKHART À ANTROPOLOGIA CONTEMPORÂNEA
Resumo
O que distinguiria o ser humano dos animais? Seria uma determinação genérica e específica? A racionalidade ou uma outra? Como herança da filosofia cartesiana, assistimos a uma tentativa de definição do humano a partir da noção de consciência. Permanece, no entanto, uma questão: se se pode compreender metaforicamente a consciência como o pano de fundo a partir do qual uma imagem de algo ou uma imagem de si aparecem, seria a realidade humana uma dentre as coisas? Sartre, ao afirmar que a realidade humana carrega em si o nada, que ela não é o ser em si, mas o ser pelo qual o nada vem ao mundo, nos convida a pensar a natureza humana como núcleo chamado a realizaro sentido de mundo. Com efeito, a natureza humana parece ser habitada de uma dimensão infinita e indefinível. Pensá-la como infinitas possibilidades de manifestação foi uma constante filosófica do movimento de cunho neoplatônico durante toda Idade Média. Da impossibilidade radical de reificação de Deus que defende essa corrente de pensamento, segue-se uma impossível reificação da própria humanidade. Essa posição teológica tem consequências antropológicas profundas. Com efeito, na tradição judaico-cristã prevalece uma tentativa de compreensão do homem a partir do conceito de imago Dei (imagem de Deus). O mundo como teofania, manifestação do invisível, finitização do infinito, afirmação da negação, exige, paradoxalmente, uma não reificação da humanidade. A teologia negativa demanda, como correlato, uma antropologia negativa, na qual a impossibilidade de definir o ser humano não se encontra nos limites da nossa racionalidade e sim, mais profundamente, no caráter infinito da natureza humana: criado à imagem de Deus, o homem não é uma coisa; criado à imagem do infinito, o homem é o infinito chamado a se auto revelar como cosmos, como mundo de significações.
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