EDITORIAL

Resumo

Franciscanismo e Fenomenologia são dois discursos da existência, historicamente distintos, mas profundamente arraigados na terra. Diferentemente da acepção usual, em que prevalece o sentido físico-material e espaço delimitado por coordenadas geográficas, terra é a escuridão superluminosa do mistério. Como fala do mistério, ela é o que está à base dos mundos que os homens, em cada época, constroem como sua casa por meio de seus feitos e obras. Terra sustém o mundo; é aquilo que dá chão à existência humana, que nunca é nos ares. Deste modo, é a evocação de uma convocação incontornável para que a existência mundana se faça obra e se consume como a tarefa de sentido, provindo do subterrâneo, que cada vez ela é. E, na mesma convocação, apela-se que o mundo se abra. Ora, passamse as figuras do mundo, porém, permanece a terra como fonte inexaurível e insondável de sentido. Por isto, ela é o imemorial que atravessa a história passageira dos homens com seu mundo, traspassa toda memória do passado e ultrapassa o presente em toda espera do porvir e chegada do inesperado. Sendo porvindoura em sua convocação, em sua vocação de ser solo retraído, a terra é o que permanece como fundo, mas sempre como advento de uma dádiva que pede aos homens espaço e tempo de sua acolhida e proteção, oferta que só eles pode fazer com o sacrifício da existência deles ao abri-la como mundo. Como o que permanece e doa sentido, mas precisa ser fundada em cada época mediante a  elevação do mundo, é ela o acontecimento manifestativo primordial, sem a qual o mundo seria escuridão sem o brilho próprio das coisas e o espírito, cegueira, apesar de todas as iluminações, explicações e significações que as teorias e ciências humanas ainda poderiam lançar sobre as coisas, sobre a existência. Assim, Franciscanismo e Fenomenologia são duas aventuras humanas ao pisar este chão imemorial, em busca de colher sua luz e seiva, na tentativa de dar corpo às decisões essenciais que, em cada tempo, os homens precisam levar a cabo e trazer à tona a totalidade intricada de significados sobre si, o outro, o arredor e as coisas presentes na singela figura de mundo histórico.