O DEVIR NA LUZ

Hildegard de Bingen

Resumo



E eu olhei para o mistério de Deus no meio dos ventos sulinos, uma imagem extremamente bela. Tinha a figura de um homem. Seu semblante continha tamanha beleza e claridade que seria mais fácil para mim olhar para o sol do que para esse rosto. Uma auréola de ouro circundava sua cabeça. Nessa auréola, acima da cabeça, aparecia um segundo rosto, como o semblante de um homem mais velho. O queixo e a barba deste tocavam o vértice da primeira cabeça. A partir da garganta desta figura surgia uma asa de cada lado. As asas elevavam-se por sobre a referida auréola e se uniam sobre esta. Na parte superior da curvatura da asa direita aparecia a cabeça de uma águia. Seus olhos eram como fogo, e neles brilhava o resplendor dos anjos como num espelho. Na parte superior da curvatura da asa esquerda havia uma cabeça humana, que brilhava como o cintilar das estrelas. Os dois rostos estavam voltados para o Oriente. Dos ombros descia ondulando uma asa até os joelhos. A figura estava envolta numa veste que brilhava como o sol. Em suas mãos trazia um cordeiro, que brilhava como um dia claro e brilhante. A figura falou assim: “Eu, a força de fogo mais elevada, acendi todas as centelhas de vida e não expresso nada de mortal. Decido sobre toda a realidade. Com minhas asas superiores abarco o globo terrestre, pois ordenei o todo com sabedoria. Eu, a vida de fogo da essencialidade divina, rebrilho por sobre a beleza das campinas, ilumino por sobre as águas, queimo no sol, na lua e nas estrelas. Com todo sopro de vento, com a vida invisível que tudo sustenta, desperto tudo para a vida. O ar vive em tudo que verdeja e floresce. As águas escorrem como se vivessem. O sol vive em sua luz, e depois de ele desaparecer, a lua volta a ser acesa pela luz do sol, como se voltasse a reviver.


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